quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eduardo Sá: “Estamos a espatifar a infância das crianças”

Notícia em: Diário as Beiras.pt 09-03-2011 O Estado não está a cumprir a lei no que respeita à proteção das crianças em risco, acusa Eduardo Sá. Em entrevista, o psicólogo lança duras críticas ao caso do desaparecimento de Rui Pedro que veio demonstrar que, em Portugal, há crianças de primeira e crianças de segunda. Os meios mobilizados, comparativamente aos de Maddie McCann, foram prova disso. Disse um dia que as crianças estão em vias de extinção… Estão. Não digo isso pelo facto de o Governo e a oposição as terem transformado numa espécie de conta poupança reforma. Acho até divertido que se fale de tudo e mais alguma coisa nas várias campanhas – presidenciais incluídas – e as questões das crianças e a política de fundo para a família nem sequer exista. Portanto, o que é que a mim me preocupa? Preocupa-me esta ideia complemente absurda de crescimento, que dá a entender que as crianças têm que ser jovens tecnocratas de fraldas antes dos seis, têm que ser jovens tecnocratas de mochila depois dos seis e têm que ser jovens tecnocratas de sucesso ao entrarem na universidade para que, finalmente – como se fosse uma linha de montagem –, saíssem todos mestres. Mestre é a designação mais vergonhosa que eu já vi para um título académico, porque é um título que reconhecemos aos sábios. Andamos a enganar os jovens? Isto é o cúmulo da publicidade enganosa. Explicar a miúdos com 22 e 23 anos que são mestres, de maneira a esperar que eles sejam, de preferência, ídolos antes dos 30… Anda toda a gente num registo eufórico e doente, que não percebe que as pessoas precisam de tempo para crescer. Acho engraçadíssimo quando dizem com orgulho que no jardim-de-infância há crianças que já sabem ler e escrever, mas não é isso que as torna mais sábias. Às vezes, as pessoas confundem macacos de imitação com crianças sábias. Acho engraçadíssimo quando as crianças não podem errar – eu julgava que errar era aprender. Mas não: as crianças têm que ter notas que são insufladas sabe Deus pelo quê. Vivem empanturradas em explicações. Se os pais puderem utilizar todo o tempo que a escola coloca ao serviço das famílias, elas podem passar 55 horas por semana na escola… Estamos a espatifar a infância das crianças, a espatifar a adolescência e, depois, com um olhar absolutamente cândido, dizemos que elas têm défices de atenção. Existe a ideia que as pessoas mais escolarizadas são pessoas mais educadas? Vive-se com essa a ideia. E peço desculpa, mas as pessoas, com toda a boa vontade do mundo, estão a tornar as crianças mais estúpidas. Se as crianças não aprendem a tolerar as frustrações, nunca hão de ser engenhosas e nunca hão de aprender com as dificuldades. A dor dói, magoa, mas é uma oportunidade de crescimento e não há dores que venham por bem. As dores são as grandes oportunidades para nos interpelarmos e para nos transformarmos. E nós não damos oportunidade às crianças para serem crianças. Queremos-las como fossem clones daquilo que nós sonhámos ser, mas que não fomos capazes. E, nestas circunstâncias, tem que haver alguém com algum bom senso que diga “tenham cuidado que estão a comprometer tudo”. As crianças brincam pouco? As crianças brincam de menos. Se houvesse em Portugal um Ministério da Educação digno desse nome, teria outro tipo de cuidado com os recreios das escolas. Os recreios das escolas públicas são uma vergonha. Não reúnem condições indispensáveis para brincar. As escolas deviam ter recreios cobertos, mas brincar é, para os governantes, uma atividade tipo primavera-verão: quando está frio e a chover, as crianças não podem ficar nas salas, não podem ficar nos espaços comuns, não podem andar na chuva… Brincam nos beirais, que é uma preparação para os desportos radicais. Mas, na falta de cuidados em relação às crianças, há um exemplo que é o mais delicioso do mundo: não compreendo porque é que as crianças têm uma disciplina de Educação para Saúde e depois, nomeadamente nas escolas públicas, as casas de banho dos alunos não cumprem as condições indispensáveis em termos de saúde pública. Para a ASAE, a segurança alimentar é importante, a contrafação é importante. As crianças, não. O que lhe apraz dizer sobre toda esta polémica em torno dos contratos de associação? Não me choca que o Estado, quando não consegue cumprir os seus compromissos, possa delegá-los noutros. E possa, na sequência disso, fazer os contratos de associação que acha que deve fazer. Até aqui, isto é pacífi co. Agora, há dois aspetos que me parecem incontornáveis: quando as pessoas querem negociar de forma séria e leal, negoceiam a tempo e horas e não me chocaria se hoje estivéssemos a negociar uma transformação para daqui a dois anos, de maneira a que se possam pensar alternativas. Não acho que o Governo tenha estado bem neste aspeto. Agora, choca-me que depois as crianças sejam instrumentalizadas de uma forma absolutamente indecorosa e sejam trazidas para discussões que não são bem razoáveis. Instrumentalizar campanhas presidenciais à esquerda e à direita com este tipo de questões, peço desculpa, é um bom serviço em favor do obscurantismo. Cada vez mais se ouve falar de crianças maltratadas… Felizmente. Tal não significa que haja maior número de crianças nessa condição? Por amor de Deus. Estas são as melhores famílias que a humanidade conheceu. As atuais. O que significa que os nossos filhos estão seguramente melhores. O que leva um pai a maltratar um filho? (suspira) Muito sofrimento acumulado. Pessoas doentes sempre existiram ao longo da história. O sistema judicial é que não. É uma conquista importante da humanidade e todos nós devemos exigir que um sistema judicial, dedicado às crianças, seja um bocadinho de sistema judicial e que tenha um componente significativo de saúde, nomeadamente de saúde mental. Que nós aceitemos que os pais maltratem, não podemos aceitar; que nós aceitemos que o Estado, como garante de princípios fundamentais, seja omisso na proteção das crianças, é que eu acho que seja inadmissível. Quando grande parte das comissões de proteção tem pessoas da maior generosidade que estão em part-time ou em voluntariado, isto diz bem o que é a proteção das crianças em Portugal. Quando nós admitimos que haja crianças que, no fundo, estão sinalizadas como estando em perigo, mas estão em perigo durante anos… É aqui que eu acho que temos que parar e perceber o que é que queremos da proteção das crianças. Porque o Estado não cumpre a lei. Em média, as crianças estão confiadas aos centros de acolhimento cinco anos. O Estado comete ilegalidades sobre ilegalidades a esse nível. Mas porque é que se maltrata? Repare: ainda hoje há pessoas que suspiram pela escola do antigo regime, que era uma escola exemplar, onde cada erro representava uma reguada. Muitos destes pais tiveram escolas e famílias muito autoritárias. É por isso que os pais hoje, quando se trata de dizer que “não” a um filho, confundem autoridade e autoritarismo. E passam a vida quase a pedir desculpa com a ideia de que o “não” traumatiza. A autoridade é um exercício de bondade; o autoritarismo é um exercício de prepotência. A prova de que nós fomos crescendo com estes equívocos é um bocadinho esta. Ainda há pais maltratantes. De todos os estratos sociais, portanto… De repente, até parece que os pais da classe média não maltratam. Há crianças que andam em colégios para meninos com “pedigree” e chegam lá todos os dias com marcas de serem batidas. E quando têm 80 por cento nos testes ficam em pânico, porque são aterrorizadas constantemente… Essas crianças estão em perigo. Porque é que as comissões nunca protegem esse tipo de crianças? Temos que proteger mais e proteger melhor. E os tribunais têm que ser mais duros em relação aos pais que maltratam e negligenciam porque, por mais doentes que eles estejam, não têm o direito de desbaratar todos os recursos saudáveis dos filhos. Como comenta caso do Rui Pedro, desaparecido há 13 anos? Uma vergonha! É uma vergonha que o Estado – e não estou a falar dos tribunais nem da justiça – o Estado, como garante do exercício da justiça, mobilize os meios que mobilizou para a menina do casal McCann e não mobilize os mesmos meios para todas as crianças desaparecidas. Não há em Portugal, não pode haver num Estado de Direito, crianças de 1.ª e crianças de 2.ª. não é justificação que alguns elementos de aparelho de Estado digam “não averiguámos porque não havia meios”. Isto é ainda é mais ofensivo para os cidadãos que, com um esforço terrível, pagam impostos resultantes da má governação dos governos dos últimos 30 anos. Estamos a falar da vida de uma criança que não sabemos onde está; se está viva ou não. Estamos a falar de pais que há 13 anos, desesperadamente, apelam de todas as formas possíveis por ajuda. E eu já perdi a conta a comentários de pessoas que comentam tudo e que até em relação ao equilíbrio mental da mãe já se dirigiram. Meus Deus! Quem é que é o pai de bom senso que, ao fim de 13 anos nestas condições, consegue estar equilibrado? Ninguém. O Estado falhou neste caso? Aquilo que o Estado mobiliza quando uma criança desaparece nunca são os meios necessários e sufi cientes, porque parte sempre do pressuposto que não é uma questão tão urgente como o crime económico e outras coisas do género. Acho isto da maior gravidade. E acho, sobretudo, da maior gravidade que um país inteiro pare à procura de uma criança – e acho muito bem –, mas como se as crianças tivessem nacionalidade. Compreende? Como é que podemos esperar que aqueles pais aceitem uma disparidade desta natureza, como se os filhos dos outros fossem filhos de 1.ª e os filhos deles fossem filhos de 2.ª. Acho uma vergonha. E aquilo que é ainda mais vergonhoso é que este caso não tenha merecido por parte das figuras do Estado, ao menos isto: um pedido de desculpas aos cidadãos e tomarem isto como pretexto para configurarem outra forma de atuação para evitar que isto se repita. É possível ensinar as pessoas a serem bons pais? É. Os pais precisam de falar pelos filhos: eles sabem muito bem que quem nos ama diz-nos por atos (e por omissões) qualquer coisa como: “sente-me em ti, pensa por mim e fala por nós”. E, de facto, os pais às vezes sentem, pensam, mas não falam. Não falam nem por eles, nem pelos filhos. Ensinar pode fazer-se de maneira divertida, pode significar dizermos aos pais que estão obrigados a dar uma hora por dia aos filhos. Uma hora de mãe ou uma hora de pai, faz muito melhor do que o óleo de fígado de bacalhau para as crianças crescerem. E é necessário dizer aos pais que têm fazer, pelo menos, uma asneira de oito em oito horas. Os pais que não fazem asneiras não são bons pais. Costuma dizer que as pessoas têm o coração apertado até ao último botão. É o que se passa com os pais? Acho que somos todos mal-educados. Todos tivemos uma educação judaico-cristã, uma educação positivista que, em muitos aspetos foi importante, mas que criou um vício de forma muito cartesiano que nos leva a imaginar que, quanto mais racionais, melhores pessoas. Fomos todos mal-educados para as emoções. Ainda continuamos a achar que ter raiva é uma coisa feia, como se a raiva não fosse o melhor ansiolítico do mundo. Quem assume que tem ódio de vez em quando? E o ódio só acontece quando alguém que nos ama nos magoa muito. As emoções são um GPS fantástico que temos na nossa vida e nós somos educados para reprimir as emoções. Quando reprimimos as emoções, além dos efeitos neurológicos que isto provoca, vai introduzir uma coisa que é pior: à medida que não transformamos as emoções em palavras, passamos a ficar partidos ao meio. Sentimos tudo, somos tremendamente intuitivos, mas depois deixamos de aprender a falar. Quanto menos somos educados para as emoções, menos educados nos tornamos para as palavras e mais começamos a adoecer. Somos, então, mal-educados para o amor? Somos também mal-educados para o amor. Mas para que é que é preciso educação sexual nas escolas? Vai-me desculpar, a sexualidade faz muito bem à saúde. Mas muitas vezes esta “educação moral e religiosa parte II” está a partir do pressuposto de coisas erradas. Educar para o amor é uma coisa muito mais séria. É muito importante dizer o que é o aparelho reprodutor e falar de meios contracetivos… nada disso merece questão. Mas o que eu gostava é que também se explicasse o que é que são as relações amorosas. Devia ou não devia ser proibido casar com o primeiro namorado? Só devia. Quer dizer: passamos a vida a dizer que errar é aprender, mas nas relações amorosas temos que acertar à primeira. Onde é que isto já se viu? Isto é mentira. Se queremos educar para as relações amorosas, devíamos dizer que devia ser proibido casar para sempre. Não devia ser para sempre? São todas para sempre. Mas o que eu gostava que as pessoas percebessem é que quanto mais importante é uma relação mais frágil se torna. Porque exigimos às pessoas que amamos – e bem –aquilo que não exigimos a mais ninguém. E quanto mais importante for uma relação, mais preciosa ela é. Era muito bom que nós dissemos que todas as relações morrem, sobretudo as mais importantes e, sobretudo, se foram maltratadas. No fundo, educam-nos para nós abotoarmos o coração até o último botão. E, às vezes, as pessoas despem-se facilmente por fora e têm dificuldade em perceber que o grande desafio da vida é despirmos-nos por dentro. É darmo-nos a conhecer por dentro. Tem uma boa relação com os seus alunos de Psicologia da Universidade de Coimbra? Gosto muito deles. Gosto muito de dar aulas, mas não gosto do poder universitário. Aprendo muito quando dou aulas, porque sinto-me obrigado a transmitir uma experiência muito diversificada e de muitos anos, a ser claro e simples. Nem sempre é uma relação/opção fácil, mas quando eles percebem que somos capazes de gostar deles e que conseguimos transformar um universo muito complexo como o da vida mental numa leitura relativamente simples, torna-se uma relação muito boa. Não perco de vista que eles são colegas mais novos. Do que não gosta no poder universitário? Às vezes,fico meio sem jeito ao dar-me conta de como, em muitos momentos no meio universitário, o bom gosto e a boa educação faltam. E devo dizer-lhe que faltam onde não deviam faltar. Mais do que integrar conhecimentos, as escolas servem para nós ficarmos melhor educados e para nos tornamos melhores pessoas e há muitos episódios soltos, em escolas universitárias – não só em Coimbra – em que os professores são um bom exemplo daquilo que não é boa educação. E depois há um aspeto na vida universitária que me preocupa: existe uma diferença profunda entre os sabichões e os sábios. E há densidade de sabichões por metro quadrado na vida universitária que me incomoda. Acho que os sábios mudam o mundo. Não precisamos de ser altivos ou arrogantes para merecermos respeito. Não é um meio que convide a pensar? O poder universitário não é um meio onde a sabedoria seja premiada. Não é. E, às vezes, não é um meio que convide a pensar, onde as pessoas se possam interpelar de forma vertical e leal. Às vezes, não é um meio leal, o que eu acho incompreensível. Teve uma infância feliz? Gostava de ter brincado muito mais. Gostava de não ter passado por algumas situações difíceis que vivi. Poderia ser muito melhor, seguramente.

quarta-feira, 7 de março de 2012

"Táquetinho ou lebas no focinho"

Esta música (clicar no título para aceder) - quuuuuuase - merecia estar na minha dissertação de mestrado!!!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Pré-escolar: a escola do corpo!


Ufa, os ânimos acalmaram e finalmente arranjo um tempinho para mais um desabafo =)



Acabei de desenvolver uma dissertação de mestrado na área de motricidade e fiquei incalculavelmente sensibilizada para os benefícios que o movimento acarreta em crianças na idade pré-escolar.

"O movimento é ele próprio o centro de vida ativa das crianças. É uma faceta importante de todos os aspetos do seu desenvolvimento, seja no domínio motor, cognitivo ou afetivo do comportamento humano. Negar às crianças a oportunidade de colher os muitos benefícios de uma atividade física vigorosa e regular é negar-lhes a oportunidade de experimentarem a alegria do movimento eficiente, os efeitos saudáveis do movimento e uma vida inteira como seres móveis competentes e confiantes". (Gallahue 2002, p. 49)

Há pouco, refletindo, questionei-me: o que mudavas numa sala de atividades do jardim-de-infância? Bem, reparem como TODAS as salas em quase TODOS os jardins estão dividas por Áreas Básicas de Atividade (ABA). Na área da biblioteca há um tapete e/ou cadeiras e mesa; na área da plástica há cadeiras e mesa; na área dos jogos há tapete e/ou cadeiras e mesa; na área das construções há um tapete; na área da cozinha...vá, deve ser a área em que as crianças mais se movimentam (mas as cadeiras e mesa estão lá e muitas educadoras ficam a rezar para que as crianças as aproveitem bem - "ai sossego que és tão bom!"). Como notámos, todas as áreas convidam as crianças a se manterem o mais imóveis possível e...ai daquele que experimentar colocar os pés em cima da cadeira ou empoleirar-se na mesa...ai daquele que anda a passear por baixo da mesa...ai daquele que estiver sentado no tapete sem colocar "as perninhas à chinês!!..ai daquele que correr pela sala...ai daquele que andar a passear o carrinho de bebé pelas outras áreas...ai daquele que decidir fazer malabarismo em cima dos legos...ai...AI DE NÓS SE NÃO ATENTARMOS A TODOS ESTES ASPETOS!
Caramba! Para além de grande parte das instituições limitar desta forma os movimentos das crianças...PORQUE RAIO NÃO HÁ UMA ÁREA DE MOTRICIDADE?!? Um cantinho da sala onde as crianças dispusessem de uma bolinhas para jogar bolling ou outra coisa qualquer; onde as crianças pudessem pôr em prática simples jogos tradicionais; onde houvesse colchões (2 ou 3) para as crianças rolarem e fazer o que lhes apetecer; cordas para equilíbrios ou saltos...enfim, uma área onde as crianças se deliciassem com o prazer de serem seres móveis e confiantes! Assim, não só adquiririam imensas competências como escapavam ao sedentarismo e à monotonia do dia-a-dia, mas isto já é história para outra postagem! ;)
Bem, e se a sala for demasiado pequena? Há que improvisar ou pôr a criatividade em ação..deixo-vos uma ideia: que tal, na área das construções, colocarem também o tapete tradicional (com as estradas ilustradas) na parede, ou pintarem nela estradas, caminhos e obstáculos? Assim, as crianças poderiam brincar também de pé, movimentando-se de um lado para o outro, tendo de se agachar e/ou esticar conforme as estradas que os seus carrinhos percorressem =) e não me digam que não tem lógica nenhuma pela estrada ficar na vertical porque, se repararem bem, as casas ilustradas no tapete tradicional também ficam bem longe da realidade..é tudo uma questão de imaginação, e isso não lhes falta! xD


Atenção: as ideias tratadas não excluem as sessões de motricidade orientadas!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Desarrumação intrínseca


Há dias conversava com uma mãe que me dizia que a sua criança é demasiado desarrumada, numa lamentação pessimista de quem acha que tem ali um ser imutável, digamos: irremediavelmente desarrumado. Ainda me dei ao trabalho de perguntar se já tinha tomado algumas atitudes de modo a alterar o hábito da criança deixar tudo fora do seu lugar, e o que obtive como resposta? – Ah! Ela é mesmo assim!
Pois bem, meus amigos, ou lutamos para combater as desgraças do mundo ou (aprendam com esta mãe) lamentem-se profundamente mas relaxem, deitem-se tranquilos, no sofá, a ver a novela, porque o sistema “é mesmo assim”.
Confesso que esta atitude, da parte da senhora, me amedrontou e fiquei a rezar para que a miúda não se lembre de pegar fogo à casa ou de dar berlindes a comer ao irmão mais novo, senão aquela mãe vai ter uma vida bem atribulada entre casas novas e médicos.
Enfim, com tudo isto decidi dar uma ajuda para quem tem crianças muiiiiiiiiito desarrumadas, e acredita (espero que sim!) que pode mudar isso:
Lembra-se de termos falado acerca das regras? Pois bem, não se esqueça desses conselhos ao aplicar as que irão ser mencionadas.
Comece por explicar à criança porque é que arrumamos as coisas: porque assim sabemos sempre onde estão, a casa fica mais bonita e arrumada, não corremos o risco de pisar alguma coisa e estragá-la, entre outros. O importante, já sabe, é que a criança compreenda o/s motivo/s. De seguida, vem o conhecimento da regra: “É assim, Pilar, enquanto estás a brincar podes usar os brinquedos que quiseres porém, no final, voltas a colocar tudo no sítio. Os brinquedos que não ficarem arrumados vão desaparecer durante 3 dias. Por cada vez que voltarem a ficar fora do seu lugar, aumenta o nº de dias que desaparecem.” Aqui, é importante ter em atenção se a criança percebeu a consequência e é bom que seja positivo/a, reforçando a ideia de que acredita que ela consegue deixar tudo arrumado, dizendo: “Eu tenho a certeza que vais deixar sempre tudo arrumado!” – as crianças são muito influenciadas por aquilo que esperamos delas, mas isso é assunto para outra publicação =)
Bem, ponha então um saco de lado, num local inacessível à criança e, não se esqueça, sempre que algum brinquedo ficar fora do lugar, coloque-o no saco e guarde, sem que a criança veja. Cumpra sempre a consequência e não se esqueça de repor o objecto, passados os dias determinados.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O choro


Certamente já todos assistiram a algo muito típico das crianças (mais, ou menos pequenas), que é deixarem de respirar por entre uma crise de choro. Até já estou a imaginar-me com 3 anitos, numa choradeira interminável, deitada no chão de barriga para baixo, com os olhos aguados e a baba a cair da boca aberta e imóvel, sem respirar. Pois é, muitas crianças têm crises de choro violentas e interrompem a respiração durante a expiração e muitos de nós já nos vimos desesperados com uma situação destas. Muitas crianças chegam até a desmaiar. A esta reacção dá-se o nome de “espasmos do choro” e surgem em resposta a um factor desencadeante, como a frustração, raiva ou dor súbita.
Decidi falar sobre isto, não porque os espasmos do choro me preocupem, mas porque me inquietam as reacções das pessoas. Adivinhem lá qual a reacção imediata…Claro: abanar a criança. Abanar com a mesma precisão e determinação com que abanamos um mealheiro cheio de moedas.
Meus amigos, se não se lembrarem de mais nada, em último caso, deixam-na chorar. Principalmente, se for um bebé, abaná-lo poderá causar danos internos graves e inimagináveis. Todos sabemos que a cabeça do bebé é desproporcionalmente grande por comparação com o corpo, tornando-se um autêntico pêndulo num vai-e-vem vigoroso, quando agitado. Isto aumenta a pressão sob o cérebro e pode causar hemorragias.
1ª Lição - NUNCA abane a criança!
2ª Lição – Não lhe faça as vontades todas só porque sabe que, se a contrariar, vem aí choradeira e possível espasmo
3ª Lição – Se estiver à porta um espasmo, mantenha-se calma/o e prepare-se para dar um sopro bem forte na cara da criança

O mais importante é educar a criança no sentido de a ajudar a lidar com as situações, evitando assim, crises de choro violentas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Editora EDIBA EON

http://www.ediba.com/ediba2009/Por/descargas.asp?R=porEI

Basta clicar nos links "Actividades complementares (.pdf)" e descarregar para o seu computador um verdadeiro tesouro de actividades para explorar com os mais pequenos!

sábado, 13 de novembro de 2010

As regras das regras =)


As crianças devem estar conscientes de que os pais não ditam regras porque sim, mas porque estas são necessárias. Para que isso aconteça, quando apresenta uma regra, esta deve vir sempre acompanhada pela explicação. Por exemplo: “- Joana, tens de fazer os trabalhos de casa antes do jantar, porque depois fica tarde e começas a sentir-te cansada e com sono.” Tenha atenção à forma como diz a regra, evite usar o “não”, do género: “-Não podes fazer os trabalhos de casa depois do jantar...” Se reparar, a frase adquire um tom muito mais negativo e opressor.
Algo que também resulta muito bem é deixar que a criança participe na regra: “- Tens de fazer os trabalhos de casa antes do jantar…blablabla…mas queres fazê-los mal chegues a casa, ou preferes ver um pouco de televisão antes, ou dar um banho…” A criança vai sentir-se também responsável pela regra e, adorando vestir um pouco o papel de adulta, vai ser muito mais fácil e motivador cumprir a regra.
Quando há regras, devem sempre ser formadas, em paralelo, as consequências de infracção das mesmas. E também aqui, deve deixar que a criança participe: “- Que consequência achas que deve ser aplicada? Ficares sem ver televisão ou não poderes levar para a escola nenhum brinquedo durante três dias?” Se reparar no exemplo, deixamos que a criança participe na consequência mas não de um modo totalmente livre. É bom enumerarmos sempre algumas escolhas, afinal, é consequência…e a criança não se pode dar ao luxo de a escolher sozinha. É importante que essas escolhas sejam algo de desagradável para a criança: não adianta dizer à Inês que se acabaram os passeios por uma semana se ela até faz sempre birra para sair de casa. Não se esqueça de algo fundamental: aplique sempre a consequência porque se vacilar, perdeu a regra!